Apesar de não desmerecer a importância dos veículos de comunicação tradicionais, que ainda reúnem muitos bons profissionais, não se pode negar que o interesse público da informação é passado pra trás a favor da informação comercial. O pensamento crítico é inviável no Brasil e até no mundo, pois homens e mulheres realmente intelectuais, apesar de alertarem sobre isso já há muito tempo sobre a concentração da propriedade dos meios de comunicação, a publicidade como principal fonte de renda e a dependência das informações fornecidas pelos grandes grupos dominantes, os endinheirados donos do mundo, de seus representantes governamentais, instituições financeiras, empresas e porta-vozes das mídias, provocam uma falsa impressão da realidade. Às vezes, essas distorções não são nem intencionais, mas por princípio editorial, respondem diretamente a interesses próprios.
Os dominados ideologicamente defendem com unhas e dentes a ideologia de seus dominantes. Por isso as condições de vida só pioram pra maioria dos trabalhadores, já que a elite não precisa trabalhar, já tem a nós que fazemos isso para eles por um custo irrisório. Temos que nos conformar que o jornalismo intelectual, investigativo e isento corre marginalmente, já que não é interessante, pois nos faz sair da alienação e nos permite organizar nosso pensamento e nos conscientizar sobre nosso cotidiano. Só as artes não estão dando conta de mobilizar as pessoas a acordarem desse sono profundo. É fundamental que o profissional e cidadão seja capaz de filtrar essa manipulação do pensamento, por isso, ter hábito de se informar adequadamente para questionar e se posicionar adequadamente.
São inúmeros os pseudo-intelectuais que viraram queridinhos das mídias, que decoraram conceitos teóricos e nos falam o que os editores de jornais querem. São meros profissionais especialistas de mercado, economistas, cientistas políticos e professores, todos adestrados, que fizeram acordo salarial com as agências de notícias para confundir a opinião pública para preservarem seus privilégios.
Os raros intelectuais estão marginalizados pois atrapalham o negócio, subvertem esse status quo de caráter exploratório inconsequente. Se porventura você pensar de forma subversiva, prepare-se pra ser acusado de petista, comunista, seguidor da teoria da conspiração, pois até isso jé foi disseminado na cabeça dos imbecis hipócritas. Esse termo é um bordão para massacrar o pensamento, a reflexão pois joga tudo no mesmo bojo, na vala comum para o conformismo e servidão perpétua.
A prática jornalística “neutra” ou “isenta” é um mito. A “independência” jornalística possui graus maiores ou menores de liberdade em relação aos poderosos que controlam a grande mídia.
Algumas agências de notícias independentes
Maior ícone do jornalismo independente no Brasil, a Pública é uma agência de jornalismo investigativo fundada em 2011 por repórteres mulheres. As reportagens da agência costumam ser bem aprofundadas e têm como princípio fundamental a defesa dos direitos humanos e são republicadas em centenas de veículos de comunicação sob a licença Creative Commons. Atuam fomentando o jornalismo independente através de mentorias, bolsas pra realização de reportagens, eventos e apoio a projetos inovadores.
Lançado em 2015, o Nexo é um jornal digital que se destaca pelo esforço pra abordar assuntos de interesse geral de forma mais aprofundada e clara. Eles têm ótimos materiais interativos, infográfios e podcasts – rolam até quizzes pra saber se você tá por dentro das notícias da semana. Costumam ser concisos sem ser superficiais, e destaque para sua newsletter.
Fundado com apoio da Agência Pública, o Ponte é um jornal independente focado em Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos. A proposta do veículo é dar voz a pessoas que são excluídas do sistema. Os assuntos incluem violência policial, racismo e questões de gênero. A equipe já produziu materiais especiais sobre transsexuais, a Palestina e assédios na PM.
Além de uma revista online feminista, a AzMina é uma instituição sem fins lucrativos que usa a informação pra combater a violência contra a mulher. A equipe promove campanhas de conscientização nas redes sociais e produz jornalismo investigativo com enfoque no empoderamento feminino.
Os assuntos abordados no site incluem temas como saúde e sexo, política, maternidade, meio ambiente, violência contra a mulher, esporte, cultura e beleza. Elas já fizeram umas séries de reportagens investigativas bem interessantes, abordando temas como a exploração sexual nas rodovias de Minas Gerais, a criminalização da prostituição e casamentos infantis entre ciganos.
Sediada em Manaus, a agência de jornalismo independente Amazônia Real tem como foco produzir reportagens sobre questões da Amazônia. O site costuma ser atualizado uma vez por semana e os temas abordados incluem meio ambiente, povos indígenas, questão agrária, economia, política e cultura.
Acho o portal muito interessante porque raramente vejo essas questões presentes na grande mídia e infelizmente me sinto muito distanciada da realidade dos povos indígenas brasileiros.
O Marco Zero Conteúdo é um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público. Com sede no Recife, o site foca em três vertentes principais: semiárido nordestino, urbanismo e relações de poder. A equipe é formada por uma galera com longos anos de atuação em veículos tradicionais e dá bastante voz a movimentos sociais.
Durante as eleições de 2018, o site fez uma cobertura especial das candidaturas femininas em Pernambuco, através do projeto Adalgisas, e fez uma parceria com a iniciativa Truco, da Agência Pública, pra checar o que foi dito em sabatinas, entrevistas e redes sociais.
Criada em 2015, a Agência Lupa foi a primeira agência de notícias do Brasil especializada em fact-checking, ou seja, em acompanhar o noticiário diário pra corrigir informações imprecisas e divulgar dados corretos. A Lupa já produziu checagens em formato de texto, áudio e vídeo, e seu material é veiculado no próprio site da agência e também em veículos de comunicação (independentes ou não).
Apesar de garantir que tem total independência editorial, a Lupa está hoje incubada no site da revista piauí, no modelo de startup.
A Alma Preta é uma agência de jornalismo especializada na temática racial do Brasil. As principais seções do site são Realidade, que traz a discussão do racismo na política, economia, cultura e esporte; Da Ponte Pra Cá, que aborda a visão da periferia em aspectos como encarceramento em massa e genocídio da população negra; Mama África, com notícias do continente africano; e O Quilombo, onde são publicados artigos opinativos.
A missão do Opera Mundi, criado em 2008, é “traduzir os acontecimentos globais sem perder de vista a perspectiva brasileira e latino-americana sobre os fatos”. Eles publicam notícias diariamente e também produzem materiais multimídia e reportagens aprofundadas sobre temas em mais evidência. Eles são parceiros do Uol e veiculam publicidade, mas se consideram um veículo independente e progressista.
O Brasil de Fato foi lançado em 2003 e tem uma pegada bem esquerdista, tendo sido criado por movimentos populares. Além do site de notícias com cobertura nacional, eles têm uma radioagência e versões regionais (inclusive impressas) no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná e em Pernambuco.
As principais seções são opinião, política, direitos humanos, cultura, geral e internacional. Além dos especiais, que já incluíram reportagens sobre o cangaço, os 130 anos da Lei Áurea e os conflitos agrários no Pará.
Pra ver muito mais exemplos de projetos de jornalismo independente no Brasil, confira o levantamento da Agência Pública.
Texto original em https://janelasabertas.com
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