Crítica cinematográfica de Mike Judge: Idiocracia
Vamos direto ao ponto. Idiocracia (Idiocracy/EUA/2005) parte de um princípio muito simples e interessante: entra geração, sai geração, a humanidade se torna mais burra e estúpida. Mas, o que poderia ser mais uma boa comédia do diretor equatoriano Mike Judge (mais conhecido por ter sido a mente por trás da tosquice de Beavies and Butt-Head) acaba sendo apenas um filme com alguns poucos bons momentos de sarcasmo e riso. Joe Bauers (Luke Wilson) é um funcionário do Pentágono que é obrigado a participar como cobaia em um projeto de pesquisa que envolve hibernação. Definido com o perfil do americano médio, ou seja, aquele típico indivíduo que se esforça para encontrar a localização do próprio país no mapa mundi, sem família e sem amigos, Bauers é o candidato perfeito servir como bucha de canhão no “Projeto de Hibernação Humana”; um evento bastante explorado tanto em filmes de ficção-científica como em sátiras como o desenho Futurama. Ocorre que por motivos mais do que imbecis a cápsula onde Joe adormece é esquecida e o pobre só acorda no longínquo ano de 2505.
Mas, vejam só a sacada. Enquanto as pessoas mais esclarecidas acabam por deixar de lado a paternidade em função de suas carreiras, relacionamentos, etc., quem enche o mundo de crias são as antas que mal sabem como utilizar uma camisinha. Ou seja, com o passar do tempo, uma seleção natural invertida vai tomando forma, onde a estupidez vai se sobrepondo à inteligência simplesmente por que nascem muito mais idiotas do que indivíduos capazes. Assim, Bauers desperta em um 2505 no qual a humanidade está repleta de energúmenos, e por incrível que pareça, ele é a pessoa mais inteligente do mundo.
O potencial para a comédia e o deboche em relação, num primeiro momento, à sociedade americana é claro. E, de certa forma, o roteiro quase crítico de Judge mira com alguma precisão em elementos descartáveis e idiotizantes da cultura popular ocidental. O consumismo desenfreado, a televisão-lixo, a banalização do sexo e a preguiça mental são aspectos que o diretor/roteirista procura abordar com doses cavalares de humor escrachado e bem adequadas ao temperamento norte-americano, mas bem distante daquilo que pode levar ao riso e à reflexão platéias de outros países, como a brasileira por exemplo. Ou seja, apesar da língua afiada, Judge peca não por tentar acostar-se na comédia recheada de escárnio tão característica de sua personalidade e carreira, mas por fazê-lo de forma rasa e regional. Tão superficial é a crítica que o filme, a meu ver, não pode nem ser considerado um longa-metragem – tem 1h:20 de duração.
Prevendo o fracasso em solo brasileiro, a Fox lançou o filme diretamente para o mercado doméstico, e poucas são as locadoras que dispõem atualmente de uma cópia. Mas, apesar dos problemas, uma sessão de Idiocracia não chega a ser uma perda de tempo. Há algumas agunçadas e sutis passagens que criam um link entre a humanidade-mula e fatos bem atuais; além disso, é visível a falta de pudor e noção de Judge ao apontar o dedo para a futilidade das coletividades contemporâneas.
Além disso, todos os atores estão exageradamente e propositalmente canastrões. Fazem parte do elenco ainda Maya Rudolph (figurinha conhecida do semanal Saturday Night Live), e Terry Crews, que se revela um ator muito bem à vontade em comédias, apesar do perfil brucutu. Idiocracia funciona como uma opção para quem quiser conhecer um pouco mais de como pensa o criador de marcos do humor televisivo americano, como King of the Hill ou o próprio Beavis and Butt-Head.
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